domingo, 8 de janeiro de 2017

AS DESVENTURAS DE UM ATOLEIMADO





                                          Juvenal Amaro


Ia eu entrar de férias
E comecei a imaginar
Aonde eu poderia
Alguns dias ir passar
Pois eu não tinha dinheiro
Que desse pra viajar.

Aí lembrei de uma tia
Que morava em Caicó
Da qual eu gostava muito.
Era uma irmã de vovó.
O seu nome era Chicuta
E o do tio era Jacó.

Caicó era um sertão
Aonde eu já havia
Há Alguns anos atrás
Passado bastantes dias
E do qual muito gostei
E senti muita alegria.

Um tanto ingênuo, simples
Eram os seus habitantes
Pensavam que eu tina fama
Era rico ou importante.
Enquanto eu, na verdade
Era um simples estudante.

E quando chegou as férias
Fui par lá sem demora.
Depois que desci do ônibus
Segui caminho afora
E andei quatro quilômetros
Com medo de caipora.

Cheguei à casa cansado.
Pus a sacola ao chão.
Falei: - Bênção, tia Chicuta.
- Deus te abençoe, Bastião!
Como é que vão teus pais
E também os teus irmãos?

- Vão muito bem, Obrigado.
E tio Jacó onde está?
Surgiu prima Conceição
Dizendo-me quê que há?
Enquanto dizia titia:
Jacó não tarde a chegar.

Logo com o pôr do sol
O tio Jacó chegou.
jantamos e conversamos.
Escuro breve ficou
E uma moças a chegarem
De uma em uma começou.

Eram mocinhas que moravam
Naquela povoação
Que vinha pra conversar
Com a prima Conceição,
Contar histórias e brincarem
Naquela escuridão.

Antes de irmos dormir
Tio falava que iria
Desleitar as vacas antes
De amanhecer o dia
E eu entusiasmado
Disse que o ajudaria.

Às quatros da madrugada
meu tio se levantou.
Eu também fui levantando
E ele interrogou:
Sabe mesmo tirar leite?
alguma vez ordenhou?

Mesmo nunca tendo o feito
afirmei não ser balela.
Então ele entregou-me
Um banquinho e uma panela
Dizendo: desleita aqui
Que vou desleitar aquelas.

Fique um pouco surpreso
Pensei, pensei e sentei
No banquinho e a panela
Pus ao chão e comecei
A apalpar o único peito
De um animal que encontrei.

Ficando cansado estava
Daquele peito apertar
E não conseguia sequer
Uma gota só tirar
Quando surgiu uma voz
Fazendo-me logo parar.

Era a tia Chicuta
Que  dizia espantada:
Meu filho isto é um touro!
Desse peito não sai nada
De leite e ainda bem
Que não lhe deu uma chifrada.

Atrás vinha tio Jacó
Que deu uma gargalhada.
Mas logo após concentrou-se
E prometeu não dizer nada
E minha tia dizia
Que ficaria calada.

Fomos voltando pra casa
Fingindo ter esquecido
Aquela decepção
Que há pouco tinha sofrido.
Mas com medo que as moças
Soubessem do ocorrido.

O dia amanheceu rápido.
As horas foram passado
E da tarde ao anoitecer
Chegavam de vez em quando
Mocinhas da vizinhança
Por Conceição perguntando.

Usava este pretexto
Para poderem ir olhar
O primo de Conceição
Que tinha vindo passar
As férias em sua casa
Mas breve iria voltar.

E assim em pouco tempo
eu tive a felicidade
De fazer com as mocinhas
Uma grande amizade
E viver muito contente
Bem distante da cidade.

Então, aquelas mocinhas
Convidaram-me um dia
Para irmos tomar banho
Em um açude que existia
Há uma média distância
Da casa da minha tia.

Lembrei que o meu calção
Era tão velho e, fiquei
Com vergonha de vestí-lo.
Alguns minutos hesitei
Porém depois decidi
E ao convite aceitei.

Ao chegarmos ao açude
Todos brincavam contentes:
Mergulhavam e nadavam
Felizes e sorridentes
E eu pra não ficar por fora
Mergulhei rapidamente.

Tão rápido que o elástico
Do meu calção se quebrou.
De muito já desgastado
A pressão não suportou.
E o calção, como em mistério.
Pelas minhas pernas passou.

Fique logo apavorado
Me vendo nu totalmente.
Porque naquele açude
Se encontrava muita gente
E procurando o calção
Mergulhei inutilmente.

Quando vi que não achava
Comecei a imaginar
O que iria eu fazer
Para conseguir voltar
À casa de tia Chicuta
Sem ninguém me avistar.

E olhando para os lados
Pude, então, perceber
Que à beira do açude
Eu poderia me esconder
Numa moita que havia
E ninguém iria me ver.

Vendo que daria certo
Mergulhei muito apressado
E bem debaixo da moita
Eu saí atarantado.
Sentei-me muito encolhido
Olhando pra todo lado.

Completamente despido
Naquela moita esverdeada
Esperava que a noite
Chegasse sem haver nada
Quando senti em minhas nádegas
Dolorosas ferroadas.

Naquele instante senti
Doer-me o corpo inteiro.
Não sabendo o que havia
Levantei muito ligeiro
E vi que havia sentado
Em cima de um formigueiro.

Quase fora dos sentidos
Corri no mato pelado
Devido aos garranchos secos
fiquei todo arranhado
E só não fique perdido
Porque logo fui encontrado.

Juntei assim minhas coisas
Uma hora da madrugada
Viajei com o meu tio
Em uma carroça quebrada.
Naquela noite tristonha
As amiguinhas risonhas
Lembrava-as eu, pela estrada.

                 Umirim-CE, 1982




quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O JOÃO E A RAIMUNDA



                        Juvenal Amaro



Ó meu Deus onipotente
que me dá inspiração
quero através da escrita
tirar do meu coração
estas palavras que falam
da Raimunda e do João.

Eu não seria este ser
Com este meu coração
Se não tivesse nascido
Destas pessoas que são
Os meus mestres nesta vida:
A Raimunda e o João.

São sinônimos de trabalho
De amor e dedicação
Norte para minha vida
Com grande orientação
Quem seria eu se não fosse
A Raimunda e o João.

A parte mais importante
Da verdadeira formação
Que todo ser necessita
Para ser um cidadão
Eu recebi dos meus sábios:
A Raimunda e o João.

Na vida se aprende tudo...
O mundo passa a lição
Existem o bem e o mal
À nossa disposição
Mas o melhor de mim, veio
Da Raimunda e do João.

Ambus têm a consciência
De cumprida a missão
Que Deus lhes deu nesta vida
E em qualquer ocasião
só procuraram ser justos
A Raimunda e o João.

Bem do íntimo do meu peito
A Deus peço proteção
para este dois que caminham
Agora com lentidão
mas com muito entusiasmo:
A Raimunda e o João.

Criaram todos os filhos
Com a mesma disposição
Muito amor, muito carinho
prezando a educação
Para seguirem pela vida
A Raimunda e o João.

Sempre estão trabalhando
Que seja inverno ou verão
O trabalho para eles
É como uma diversão.
É um costume antigo
Da Raimunda e do João.

A bela cor dos cabelos
Revela a consagração
De toda uma vida digna
De amor e devoção
Com humanidade e fé
A Raimunda e o João.

Aconselhando os filhos
A viverem em união
Com fé e honestidade
Respeito e compreensão
Foram os ensinamentos
Da Raimunda e do João.

Quando Altalene nasceu
Foi grande a emoção
Tempos depois a Francisca
E a mesma satisfação
tomaram conta dos pais:
A Raimunda e o João.

Foi vindo a Liduina
E o Juvenal então
A Mariana também veio
E o Francisco, outro irmão
Foi aumentando a família
Da Raimunda e do João.

Chegaram: a Juscilene
Dando continuação
O Apolônio e a Socorro
E o décimo desta união
A caçula, Leonor
Da Raimunda e do João.

E prosseguiram a lida
Com a mesma abnegação
Pra darem melhores dias
Esta nova geração
E assim fazem até hoje
A Raimunda e o João.

Uma vida de trabalho
E muita satisfação
Tudo com a graça de Deus
E com a Sua permissão
Vão seguindo suas vidas
A Raimunda e o João.

Alguns anos depois veio
A filha de criação
Nasce a neta Francislene
Que naquela ocasião
Foi morar com os avós
A Raimunda e o João.

Se há amor, os problemas
Sempre têm uma solução
E para o que não tem jeito
Deus dá a conformação
Foi assim que sempre agiram
A Raimunda e o João.

Gostam das coisa certas
Pra não perderem a razão
E para todos os filhos
Têm uma boa explicação
Sempre procederam assim
A Raimunda e o João.

Há mistérios neste mundo
Dos quais não temos noção
Mas por tudo nesta vida
Nossa imensa gratidão
A Deus que nos acompanha
Com a Raimunda e o João.

Se realmente o espírito
Volta em outra encarnação
Eu espero aqui estar
Junto com os meus irmãos
E ser filho novamente
Da Raimunda e do João.

João encontrou Raimunda
Uma grande união
Vitalícia e profunda
Encanto, paz e emoção.
Nas coisas de Deus existe
Algo forte que resiste
Languidez e provação.

Umirim, outubro de 2013