A
QUEDA DO SKILAB
Juvenal Amaro
Quem
vive acompanhando
E
presta muita atenção
Ao
que informam os jornais,
Rádio
e televisão
Soube
e se lembra ainda
De
uma comunicação
Que
falava sobre um
Laboratório
colossal
Que
se chamava Skilab,
Era
ele espacial
E
na Terra iria cair
Sem
se saber o local.
Por
isso essa notícia
Veio
abalar muita gente,
A
qual nem sequer sabia
O
que seria esse ente
E
se espantava com qualquer
Um
barulho diferente.
Foi
a espera de sua queda
Algo
desesperador.
Até
com tosse corriam
Apavorador
de temor
Chamando
home, senhora
E
mulher, de meu senhor.
Muitos
passavam a noite
Olhando
para o espaço
Fingindo
não sentir sono,
Dizendo
não ter cansaço,
Com
medo de irem dormir
E
acordarem em fracasso.
Essas
pessoas tremiam
Quando
viam de repente
As
luzes de um avião
Passando
rapidamente,
Alguma
delas caia
Ao
ver estrela cadente.
Também
muitos se espantavam Simplesmente
com o vento,
Sentiam
enorme susto
Até
com som de instrumentos,
Quase
caiam pra trás
Ao
relinchar um jumento.
Porém
dentre essa gente
Que
tanto se assustou
Havia
um jovem casal
Num
pequeno interior
Que
pelo seu nervosismo
Tão
logo se destacou.
Chamava-se
Sebastião
E
Josefa a sua mulher,
Gostavam
de trabalhar
Em
Deus tinham muita fé.
Moravam
há muito tempo
No
povoado Guiné.
Não
tinham filhos e Josefa
Não
era lá muito feia,
Era
daquelas mulheres
Que
adoram dormir com meias
E
cuidam cedo de casa
Pra
falar da vida alheia.
Enquanto
Sebastião
Pela
roça trabalhava
E
nos seus dias de folga
Nas
matas então caçava,
Com
não tinha preguiça
Às
vezes até pescava.
Era
o casal mais feliz
Que
em Guiné existiu,
Vivia
muito tranquilo,
Com
medo nunca se viu
Até
quando a história
Do
Skilab surgiu.
Desse
dia em diante
Sossego
não tiveram mais,
Ficaram
muito nervosos,
Perderam,
assim, a paz.
Assombravam-se
com tudo
Que
lhes chegassem por trás.
Quando
iam para a casa
De
alguém de sua estima
Não
usavam mais chapéus
Apesar
de quente, o clima,
Caminhavam
o tempo todo
Sempre
olhando para cima.
Às
vezes quando passavam
No
começo de um penedo
Levavam
cada topada
Daquelas
de arrancar dedo
Mas
para cima não deixavam
De
olhar sempre com medo.
Se
resolviam deitar-se
Já
quase adormecidos
Se
assustavam com a cama
Quando
ela dava um rangido,
Sonhavam
com o Skilab
E
acordavam atordidos.
No
outro dia se o sol
Demorasse
a surgir
Ficavam
logo pasmados
Dizendo:
o sol vai sair
Ou
será a sombra do troço
Que
vem descendo por aí?
Naquele
dia não saíam,
Bastião
não trabalhava
Porque
Josefa só pensando
No
Skilab não deixava,
Também
porque Bastião
Com
muito medo ficava.
Em
casa se espantavam
Com
vizinhos na janela
Corriam
para cozinha
Mas
se caísse uma panela
Dizia
um para o outro:
-
Que zoada foi aquela?
Josefa
atarantada
De
tudo se esquecia,
O
que ficava no fogo
Nem
ao menos olhar ia
E se assustava com o barulho
De
alguma coisa que fervia.
Sebastião,
por sua vez
Quando
sair resolvia
O
cachorro ia atrás
Mas
ele não percebia,
Era
mais um grande espanto
Quando
o cachorro latia.
Porém
a primeira vez
Que
isso aconteceu
O
pobre ficou sem fala,
Logo
empalideceu,
Sentiu
abalo tamanho
Que
até adoeceu.
Pensava
ser o Skilab
Que
ali vinha descendo
Ficou
com a calça suja
A
pura fezes fedendo.
O
seu medo foi tão grande
Que
quase ia morrendo.
Chegou
em casa ainda
Quase
sem poder falar
Dizendo:
Josefa eu
Estou
pra não aguentar,
Esse
cachorro, um dia
Ainda
vai me matar.
Valha-me
Senhor Jesus! Josefa
assim falava
Enquanto
de Bastião
Aquela
calça tirava,
Que
além de fedorenta
Muito
melada estava.
Mas
o tempo se passou,
Bastião
foi trabalhar,
Zefa
de novo sozinha
Então
teve que ficar
Mas
era um tremelique
Até
Bastião voltar.
Corria
lá para a sala
Voltava
para a cozinha,
Em
vez cozer feijão
Cozinhava
era farinha,
Quando
o medo aumentava
Gritava
pela vizinha.
Dizendo:
Dona Maria
Vem
logo me socorrer,
Estou
ouvindo zoada
E
eu não quero morrer,
Pois
estou vendo a hora
Esse
Skilab descer.
Quando
iam esquecendo
Outra
notícia surgia
Dizendo
que estava próximo
E
brevemente cairia,
Porém
o local exato
Ainda
não se sabia.
E
eles que esperavam
Notícia
bem diferente,
Ou
seja, que cairia
Jamais
neste continente,
Então
cheios de pavor
Tornavam
se novamente.
Diziam:
Mas que desgraça
Fizeram
aqui com a gente
Pendurando
esse bicho
Para
cair de repente
Arriscando
a acabar
Um
bocado de viventes.
E
depois quando rezavam
Diziam
em suas preces:
Eu
pegaria esse bicho
Se
poder Jesus me desse
E
derrubaria na cabeça
Do
elemento que o fizesse.
Só
para que essa peste
Deixasse
de ser malvado
E
não perturbasse mais
Que
vivia sossegado,
Fazendo
um danado desse
Que
só dá mal resultado.
Mas
Josefa inocente
Começava
a imaginar
Como
era que podia
Ficar
aquilo no ar
E
ao coitado Bastião
Passava
a perguntar.
-
Bastião fizeram mesmo
Ou
é ser mal-assombrado?
Se
é verdade que fizeram
Como
é que está pendurado?
Em
que ele então ficou
Lá
em cima agarrado?
-
Mulher, não posso saber,
Respondia
Bastião.
Só
sei que esse danado
Qualquer
dia vem ao chão.
Se
isso não acabar logo
Vou
morrer do coração.
Porém
com bastante medo
Amanhã
vou trabalhar,
Sem
ir lá na minha roça
Sei
que não posso ficar.
Antes
rogarei a Deus
Pra
do Skilab me livrar.
Nessa
conversa ridícula
A
noite ia passando,
Vez
por outra um dos dois
Saia
lá fora olhando
E
ainda continuavam
Com
tudo se espantando.
Logo
que amanhecia
Bastião
ia ao quintal
Pegava
as suas ferramentas
E
trabalhar ia a final
Porém
voltava porque
De
medo se sentia mal.
Todo
dia era assim:
Acordava
bem cedinho,
Aprontava
suas coisas,
Tomava
seu cafezinho,
Mas
o medo apertava,
Voltava
mal do caminho.
Até
que certa manhã
Sebastião
se zangou,
Saiu
para o trabalho
E
da roça não voltou
Enquanto
não apareceu
Coisa
que o assombrou.
Apenas
por uns minutos Já
estava esquecido
Quando
passou um besouro
Bem
perto do seu ouvido,
Saiu
correndo nos matos
Quase
que ficou perdido.
Chegou
em casa contando
Do
barulho que ouviu,
Sentindo-se
muito mal
Um
chá à mulher pediu
E
depois de quase um mês
Foi
que de casa saiu.
Dizendo:
- Josefa, sabe
Que
sempre fui muito macho.
E
agora uma pescaria
Vou
fazer lá no riacho.
-
Mas como ficar de olho,
Um
pra cima, outro pra baixo?
Bastião
não respondeu
A
pergunta da mulher,
Pegou
logo seus anzóis
E
saiu dizendo: até
A
tarde quando eu voltar,
Fique
calma e tenha fé.
Chegando
lá no riacho
Aonde
iria pescar
Procurou
uma grande árvore
Para
na sombra ficar
Botou
a isca no anzol
E
peixe foi esperar.
Passado
bastante tempo
E
peixe não apareceu,
A
água corria leve,
O
anzol nem se mexeu,
Com
essa tranquilidade
Bastião
adormeceu.
Quando
estava dormitando
O
peixe a isca puxou,
Com
o balanço da vara
Assombrado
despertou,
O
seu medo foi tão grande
Que
por Josefa gritou:
Josefa
vem acudir-me
Que
o Skilab desceu.
Quase
sem poder falar
Esses
gritos ele deu,
Abriu
os olhos ligeiro,
Soltou
o anzol e correu.
Só
indo parar em casa
Pelos
matos já ferido.
A
mulher lhe perguntou:
-
O que é isso marido?
O
que foi que aconteceu
Que
está tão abatido?
-
Um grande susto que tive,
(Respondeu
Sebastião)
Não
posso dizer de quê
Pois
não prestei atenção,
Se
não era o Skilab
Só
podia ser o cão.
Josefa
fazia um chá
Dizendo:
mas que besteira
Conversar
em Skilab...
Quando
caiu a chaleira,
Ela
deu um grito enorme
Que
saiu gente às carreiras.
Josefa
correu também
Tropeçou
numa gatinha
Que
deu um grande miado
E
espantou a vizinha.
Quando
Zefa levantou-se
Mijado
também já tinha.
Mas
tudo ficou tranquilo Depois
daquele alvoroço,
A
gata lá na cozinha
Já
estava pegando osso
E
Josefa agarrando
Bastião
pelo pescoço.
Então
Bastião, agora
Achou
melhor ir caçar
Pois
de roça e pescaria
Nem
queria ouvir falar,
Porque
toda vez que ia
Era
só pra se assombrar.
Assim
pegou a espingarda
De
mato a dentro saiu,
Josefa
ficou olhando
Até
quando ele sumiu
Naquela
folhagem verde
Que
depressa o cobriu.
Uma
vez então no mato
Passando
bem devagar
Debaixo
de uma árvore
Para
as caças não espantar
Sempre
de cabeça baixa
Para
atirar num preá.
Fez
um ruído uma ave
Nas
folhas quando voou
Bastião
que estava atento
No
preá, se assustou
E
muito rapidamente
A
espingarda levantou.
Quando
a espingarda subiu
Em
um enxame bateu
E
assim pra cima dele
No
mesmo instante desceu,
Enfeitado
de abelhas
Para
casa então correu.
Zefa
que estava à porta
Viu
que ele vinha aos tombos
Correu
para encontrá-lo
Com
ferroada nos lombos
E
aprontou um remédio
Pra
curá-lo dos calombos.
Na
noite do mesmo dia
Ele
cedo adormeceu,
Josefa
também deitou-se,
Como
sempre ao lado seu,
Mas
Bastião espantou-se
De
um pum que ela deu.
E
assim continuaram
Com
um medo sem parar
E
só depois que o rádio
Começou
a anunciar
Que
o Skilab caiu
É
que foram sossegar.
Já findei a minha
história
Um bocado
verdadeira.
Você pode então
notar
Em que consistiu a
besteira
Na vida daqueles
entes
Aparvalhados, que a
gente
Leva até na brincadeira.
Acho que não ofendi
Mesmo, aos que
tremeram à toa.
Ah! Se isso eu
cometi!
Rogo a essas
pessoas
O perdão, pois não
menti.
Setembro
de 1979
Umirim-CE