sábado, 17 de julho de 2010

Pequeno pedaço do "habitat" deste ser em extinção
UM SER EM EXTINÇÃO

Não existe mais no mundo
lugar para amor profundo.
o importante não é amar.
e por não me adaptar
nem mudar meu coração
não existe mais espaço
é evidente o  fracasso
Sou um ser em extinção.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O LOBISOMEM DE UMIRIM


 

Eu vou agora escrever
o que contaram para mim
sem lacunas, nem acréscimos
com princípio, meio e fim
sobre algo do passado
que foi o famigerado
lobisomem de Umirim.

Numa noite de verão
calçando um par de tamanco
saiu louco em disparada
foi até o rio Pau Branco
voltando ainda na carreira
caiu dentro de uma caieira
não morreu, mas ficou manco.

Foi à pedra do urubu
e subiu dando risada
em volta de um quilômetro
se escutava a gargalhada
as mãos no peito batia
satisfeito parecia
vendo a noite enluarada.

depois saiu galopando
foi ao campo da estação
deitou-se e foi rolando
sete vezes pelo chão
levantou, mostrou os dentes
deu sete gritos estridentes
e farejou como um cão.

Foi ao pé de tamarina
e subiu muito ligeiro
com um barulho tão grande
que assustou o povo inteiro
sem saber o que havia
e aquela hora dormia
lá no alto do Cruzeiro.

Quando desceu foi até
a grande cruz de madeira
e gemendo enormemente
se debateu, fez poeira
babando rangeu os dentes
deu sete pulos à frente
depois saiu na carreira.

Os cachorros foram atrás
num tumulto infernal
quando chegou à Preguiça
ele entrou no matagal
mas os cachorros parados
ficaram fora cansados
como que passando mal.

Mas pela linha do trem
foi voltando apressado
sempre zig-zagueando
pulando com os pés trocados
e ao chegar na estação
pulou sobre um vagão
de um trem que estava parado.

Dando algumas cambalhotas
pulou de novo no chão
girou em torno de si
que parecia um pinhão
parou, ficou agachado
apontou para o Caio Prado
e foi em sua direção.

Mas ao chegar no campinho
com as patas poeirentas
deu um espirro tão grande
que botou fogo da venta
voltou à linha de ferro
saltitando e dando berros
e montou em uma jumenta.

Foi ao matadouro público
onde abatiam um garrote
rápido por cima da cerca
o homem deu um pinote
sem saber aonde ir
quando deu conta de si
estava lá no Serrote.

Banhou-se no Caio Prado
fez o maior alvoroço
pulava como um golfinho
e retorcia o pescoço
na água que se agitava
e o açude transbordava
como um pequeno poço.

Sobre o Riacho da Sela
a ponte era de madeira
suas patas sobre ela
faziam uma batedeira
e com o silêncio que existia
muito longe se ouvia
toda aquela quebradeira.

Chegou nas bancas noturnas
de tapioca e café
o vendedor cochilando
foi dizendo: o que quer?
mas vendo o ser esquisito
apavorou-se, deu um grito
e se agarrou com a mulher.

A criatura foi saindo
para um pé de benjamim
naquela época havia
no centro de Umirim
se escondeu detrás do tronco
deu quatro ou cinco roncos
e transformou-se em cupim.

Mas ninguém se aproximou
não queriam se arriscar
as hora foram passando
começou a clarear
e quanto ficou visível
perceberam algo incrível
nada havia no lugar.

Apareceu no Rancho Fundo
um dos bairros mais antigos
sob o clarão da lua
sapateou em um abrigo
chamado de barracão
depois sentou num pilão
para coçar o umbigo.

Montado em um jumento
foi dizendo: upa, upa
um cassaco e uma raposa
levava em sua garupa
uma mulher que o viu
teve um desmaio e caiu
e daí ficou maluca.

Chegou à Rua do Rio
os galos estavam cantando
passou no Açude Grande
um tamanduá puxando
no Alto Alegre parou
As estrelas contemplou
tal qual um gato miando.

Foi num corte de madeira
que aguardava um caminhão
pra poder ser transportada
para próximo da Estação
subindo desempilhou
toda madeira que ficou
espalhada pelo chão.

Passou pela Carnaúba
atravessou o Bringel
chegando em São Domingos
resolveu ir tirar mel
movimentando as orelhas
pra espantar as abelhas
tirou e pôs num chapéu.

O lobisomem falado
por muitos anos apareceu
mas até hoje ninguém sabe
o que foi que aconteceu
se simplesmente sumiu
ou se alguém o descobriu
se foi embora ou morreu.

Jamais pensei que pudesse
Um lobisomem existir
Vejo agora que é possível
Encontrar um por aí
Na verdade para achar
A melhor forma é sonhar
Lembre que é só dormir.

Juvenal Amaro
Umirim, Dezembro de 2008

AMOR OU LOUCURA

Para amar é preciso
de coração, não de juízo.
Mas para ser sincero
não entendo nenhum pouco
se sou louco porque te quero
ou se te quero porque sou louco.
Juvenal Amaro

INEVITÁVEL

Se é um erro te amar
a cada dia o meu errar
é maior e mais constante
inevitável e profundo
e dentre todos os errantes
sou eu o maior do mundo.
Juvenal Amaro

DOIDEIRAS


 

A cidade de Atenas
não tinha televisão
aí pegaram uma ruma
que trouxeram do Japão
e foram distribuindo
com toda população.

Eu também recebi uma
e contente fui ligar
o número do telefone
eu não consegui lembrar
sai pra fora correndo
peguei o programa no ar.

Quando eu estava assistindo
saiu um comercial
comprei duas rapaduras
mas não tinha capital
foi o jeito eu pagar
com o Estado, pessoal.

o governador falou
que o Estado não é meu
então fui ao hospital
para ver o que aconteceu
t6inha um estado de coma
mas falaram: alguém comeu.

E pra saber a certeza
fui falar com a direção
me ofereceram uma carona
em cima de um caminhão
o carro voltou batendo
queria era confusão.

Eu prefiro sem fusão
pois derretido é ruim
já vi que o seu desejo
é passar pelo Umirim
depois se for assaltado
não bote culpa em mim.

O meu relógio parou
eu não sei que horas são
mas vou perguntar ao padre
sem fazer a confissão.
Se o carro está rangendo
é problema com o munhão.

A faca estava cega
e tropeçou no facão
apareceram dois dentes
quando se tacou no chão
aí foi ao oculista
fazer a obturação.

O sol estava nascendo
quando a parteira chegou
disseram-lhe: chegou tarde!
o dia já clareou
mas amarre o umbigo
com a linha do Equador.

Tomaram um copo d'água
e houve uma confusão.
disseram que aquele ato
era uma agressão
pois o certo não é tomar
é pedir com educação.

Pegaram uma Q-boa
derramaram no açude
a água ficou tão ruim
que fui beber e não pude.
É preciso derramá-la
mas não há quem me ajude.

Quero derramar a água
por uma grande peneira
para o peixe não passar
bem depressa, na carreira
e depois irem dizer
que estou fazendo asneira.

Estar fazendo calor
porque eu não quis ouvir
mas se voltar a falar
não consigo resistir
pois com uma quentura dessa
eu não vou poder dormir.

Quando eu peguei no sono
não tive muito cuidado9
minha mão estava suja
e ele ficou zangado
fugiu de mim de repente!
fiquei a noite acordado.

Estava passando mal
foram chamar o doutor
que no seu diagnóstico
rapidamente informou:
o problema não é grave
foi o ferro que esfriou.

Aí trouxeram uma cama
para casal, de madeira,
o casal deu o cupim
a cama ficou inteira
então quiseram levá-la
pra ser vendida na feira.

O carro que a levava
deu o prego na estrada
que ficou tão enfiado
sem nenhuma martelada
Aí foram mesmo a pé
andando pela calçada.

A calçada tinha um calo
do sapato apertado
descalçou-se e foi seguindo
com o seu pé calejado
mas apesar do esforço
a feira havia terminado.

Ia dobrando a esquina
para pegar outra rua
ela disse: não é preciso
me pegar pois já sou tua.
Para que dobrá-la de novo
se torna ela continua?

Aí foi pegar o ônibus
mas não pode segurar
teve que ficar no ponto
esperando outro passar.
como o ponto era final
não pode continuar.

Foram escrever a ata
mas já estava madura.
Se colocá-la no livro
aumenta a temperatura
podendo até se esmagar
e não pode haver rasuras.

já deu na televisão
muita gente assistiu
a pancada foi tão grande
que da mesinha caiu
mas deu também no jornal
deu no rádio e no edital
e pouco depois sumiu.

Já soube que deu no pé
Uma coisa de repente
Vai batendo por aí
E ainda não deu pra gente
Na noite deu pra cantar
Acho que deu pra tomar
Líquido como aguardente.

Juvenal Amaro
Umrim, Julho de 2004