quarta-feira, 17 de maio de 2017

UM JUMENTO NOSSO EM MARTE


  


                                          

                   Juvenal Amaro

Um marciano que veio
Visitar nosso Planeta
Falou que nunca em Marte
Se escreveu com caneta
E se por acaso errar
Se apaga com o polegar
E não existe tinta preta.

Papel também não existe.
Se escreve no espaço.
Onde você estiver
Basta só erguer o braço
E começar a escrever
Que o outro para ler
Não encontra embaraço.

E quem anda pelas ruas
Precisa ter atenção.
Tem texto em todas as partes
Causando até confusão.
Quem caminha descuidado
Bate a cabeça e zangado
Derruba as letras no chão.

E do dedo indicador
A cor que sai é cristal.
Uma escrita no escuro
Fica sensacional.
E se no claro escrevê-la
Brilha como as estrelas
No espaço sideral.

A escrita é usada
Só para informação
Por que o que é passado
De geração a geração
Fica no ser encucado
Por um chip implantado
Com tudo da educação.

E outra coisa também                                                                   
O marciano mencionou.
É que em missão secreta
Na Terra se hospedou
Pra poder observar
E com calma analisar
Alguns seres que encontrou.

 Um deles, o marciano
Viu aqui pelo nordeste
E achou interessante
Esse animal do agreste
Que ficou o observando,
Vários dias o acompanhando
Como se fizesse um teste.

Percebeu que o jumento
É um ser inteligente.
O homem dizia: aííí!
E o animal prontamente
No local certo parava
E a tarefa realizava
Melhor do que muita gente.

Seguia pelo caminho
Carregando a bagagem
Bem na frente do seu dono
Não errava uma só paragem.
O marciano invisível
Espiando achou incrível.
Continuou a sondagem.

Se encantou ainda mais
Quando viu o jumentinho
Contornando muitas curvas
Que existiam no caminho
Mesmo sem sair do “trilho”
Vencendo todo empecilho
Sem demorar e sozinho.

O seu trabalho, o jumento                                                             
Desempenha sem maldade.
Sem preguiça ele anda
Sertão, praia e cidade.
O que querem ele transporta
Por onde vai não importa,
Nem teme adversidade.
  
Observando um humano
Ficou logo insatisfeito.
A cada dia que passava
Mais encontrava defeito.
Disse: que decepção!
Esta observação
Não vai produzir efeito.

Passando-se alguns dias
Sendo o jegue observado
Resolveram abduzí-lo
Quando estava no cercado.
Numa nave espacial
Carregaram o animal
Pra ser mais analisado.

 Depois de muitos estudos
Envolvendo corpo e mente
Introduziram-lhe um chip
Com comandos referentes
À várias atividades
As quais, na realidade,
Só quem executa é gente.

O jumentinho esperto
Foi muito bem que se saiu
Desempenhando as tarefas
Que o marciano pediu
E assim mostrou progresso
Com segurança e sucesso
Cada etapa concluiu.

Podemos imaginar                                                                              O que vai acontecer
Quando outros jegues assim
Aqui na Terra aparecer.
Será um grande espanto
Com gente em todo canto
Jumento querendo ser.

 Um jumento inteligente
Muito mais do que humano,
Não sendo mais explorado
Com castigo de tirano.
A inveja vai bater
E muita gente, para ser
Um jegue, vai fazer plano.

Quando um mal-educado
Chamar alguém de jumento
Este alguém vai atender
Cheio de contentamento
Dizendo tranquilamente:
Eu sou mesmo inteligente
E tenho conhecimento.

Chamar jegue de meu love
Isso iremos escutar
E fotos no facebook
Vamos poder encontrar.
E como moda pega à toa
Por certo terá pessoa
Querendo até relinchar.

 Tendo o jumento sofrido
Desprezo de muita gente,
Com o desenvolvimento
Abandonado cruelmente,
Agora sendo famoso
Vai surgir ambicioso
Dizendo que é seu parente.

Sei que o termo “my jegue”                                                             
Vai já substituir
O termo em uso “my love”.
Muitos vão admitir
E pela mídia adotado
Dessa forma assim falado
Passaremos a ouvir.

Passeata de jumentos,
Desfile no carnaval,
Seita e religião,
Propaganda eleitoral
E em tudo que dar dinheiro
Ele sendo o primeiro
Será muito natural.

Jegue em cima de gente
Gente por baixo de jegue
Com a fama que vai ter
Haverá quem o carregue.
Puxa-saco é desse jeito
Mesmo que estufe o peito
E lasque tudo mas consegue.

Justamente o jumento
Um animal de valor
Vai viver mais sossegado
E sem mais aquela dor
Natural do seu destino
Ajudando o nordestino
Lutando com destemor.

Umirim, novembro de 2015