Juvenal
Amaro
Das coisas que são comuns
De lugarejo a cidade
É feira livre animada
Fuxico e veracidade
Questão com vias de fato
Propagação de boatos
Que causam inimizade.
Em um lugar tão pequeno
Não tinha muita opção
O melhor local que havia
Pra comprar na região
Era a feira semanal
Onde tinha o principal
Para a alimentação.
Um homem se acordou cedo
E caminhou para a feira
A fim de fazer as compras
Para a semana inteira
Levava bolsa e bisaco
Também um pequeno saco
Metido na algibeira.
Desde o dia anterior
Ele já não estava bem
Sentindo um mal-estar
Mas não dizia a ninguém
Pensava: isto é besteira
Eu vou amanhã à feira
Comprar as coisas também.
Era de costume seu
Sempre antes de iniciar
Suas comprar pela feira
Na banca de Inês passar
Para comer panelada
Ou arroz com tripa assada
Para se fortificar.
No seu trajeto pra feira
Tinha que passar primeiro
Por uma rua chamada
A rua dos fuxiqueiros
O povo de lá sabia
De tudo que acontecia
Pelo lugarejo inteiro.
Se alguém passar pela rua
Já vão querendo saber:
Para aonde vai? O que é?
E o que lá vai fazer?
Se for procurando alguém
Saem seguindo também
Disfarçados, para ver...
Terminando a refeição
Foi comprar o mantimento
Pois a sua intenção
Ali, naquele momento,
Era rápido resolver
O que tinha pra fazer
E voltar ao aposento.
Mas uma necessidade
De defecar o pegou
Procurou em toda parte
Um local... Não encontrou
Então num grande aperreio
Pegou a bolsa e no meio
Da feira se aliviou.
Como a bolsa era de palha
Logo as fezes iam vasar
Saiu procurando um canto
Para dela se livrar
Andando muito ligeiro
Na rua dos fuxiqueiros
Ele tornou a passar.
Os curiosos da rua
Já estavam na calçada
Um deles se aproximou
Fingindo não querer nada
Para saber o que seria
Que naquela bolsa havia
Tão diferente levada.
O que é isso seu Zé?
Que o senhor carrega aí?
É uma coisa perigosa?!
Está tão longe de ti!
E foram acompanhando
O homem depressa andando
Querendo fugir dali.
Vendo que não conseguia
Jogou a bolsa, zangado,
Para eles que correram
Para pegá-la apressados
O homem disse: é ruim...
Quem goste de merda assim
Eu nunca tinha encontrado.
E voltando para a feira
Suas compras concluiu
Evitou aquela rua
Por outro lado saiu.
Enquanto indignados
Na rua todos melados
Diziam: o homem sumiu.
Mas ele vai nos pagar
É na próxima semana
Quando passar por aqui
A gente pega o sacana
Depois chama o delegado
Por ter a gente melado
Pode até entrar em cana.
Enquanto isso na feira
Um coronel do sertão
Ia passando em seu carro
E sem prestar atenção
Também o povo melou
Quando o pneu passou
Sobre uma poça no chão.
Alguém logo inventou
Que o coronel mandou dizer
Que os que foram melados
Ele iria receber
Em sua fazenda um dia
Com comida e alegria
Pra ninguém se aborrecer.
Daquela rua, um morador
Que cedo havia saído
Também estava na feira
E viu todo o ocorrido
Chegando a casa contou
Que o povo que se melou
Ia ser bem recebido.
Recebido de que jeito?
Perguntou a Isabel
Ele disse: aquele homem
Que melou é o coronel
E para se desculpar
A todos vai convidar
Para um sarapatel.
A mulher saiu correndo
Pra dizer aos companheiros:
O homem que nos melou
É um grande fazendeiro!
Vocês prestando atenção
A merda da confusão
Nem tinha tanto mau cheiro!
- Não parecia que fosse!
Com tanta simplicidade!
- Ele jogou foi pra mim!
Era merda de verdade!
- Eu não estou compreendendo!
Você agora está querendo
Sozinha a felicidade!
A raiva que eles tinham
Do humilde cidadão
Pensando ser um coronel
Transformou-se em afeição
E o assunto todo dia
Era de quando seria
A grande recepção.
Jurei não mais escrever
Uma estória como essa
Voltei atrás só por que
Encontrei motivo à beça
No tempo por onde andei
Assistindo ao que encontrei
Lembrei-me desta conversa.
Umirim-CE
Fevereiro de 2021