Eu vou agora escrever
o que contaram para mim
sem lacunas, nem acréscimos
com princípio, meio e fim
sobre algo do passado
que foi o famigerado
lobisomem de Umirim.
Numa noite de verão
calçando um par de tamanco
saiu louco em disparada
foi até o rio Pau Branco
voltando ainda na carreira
caiu dentro de uma caieira
não morreu, mas ficou manco.
Foi à pedra do urubu
e subiu dando risada
em volta de um quilômetro
se escutava a gargalhada
as mãos no peito batia
satisfeito parecia
vendo a noite enluarada.
depois saiu galopando
foi ao campo da estação
deitou-se e foi rolando
sete vezes pelo chão
levantou, mostrou os dentes
deu sete gritos estridentes
e farejou como um cão.
Foi ao pé de tamarina
e subiu muito ligeiro
com um barulho tão grande
que assustou o povo inteiro
sem saber o que havia
e aquela hora dormia
lá no alto do Cruzeiro.
Quando desceu foi até
a grande cruz de madeira
e gemendo enormemente
se debateu, fez poeira
babando rangeu os dentes
deu sete pulos à frente
depois saiu na carreira.
Os cachorros foram atrás
num tumulto infernal
quando chegou à Preguiça
ele entrou no matagal
mas os cachorros parados
ficaram fora cansados
como que passando mal.
Mas pela linha do trem
foi voltando apressado
sempre zig-zagueando
pulando com os pés trocados
e ao chegar na estação
pulou sobre um vagão
de um trem que estava parado.
Dando algumas cambalhotas
pulou de novo no chão
girou em torno de si
que parecia um pinhão
parou, ficou agachado
apontou para o Caio Prado
e foi em sua direção.
Mas ao chegar no campinho
com as patas poeirentas
deu um espirro tão grande
que botou fogo da venta
voltou à linha de ferro
saltitando e dando berros
e montou em uma jumenta.
Foi ao matadouro público
onde abatiam um garrote
rápido por cima da cerca
o homem deu um pinote
sem saber aonde ir
quando deu conta de si
estava lá no Serrote.
Banhou-se no Caio Prado
fez o maior alvoroço
pulava como um golfinho
e retorcia o pescoço
na água que se agitava
e o açude transbordava
como um pequeno poço.
Sobre o Riacho da Sela
a ponte era de madeira
suas patas sobre ela
faziam uma batedeira
e com o silêncio que existia
muito longe se ouvia
toda aquela quebradeira.
Chegou nas bancas noturnas
de tapioca e café
o vendedor cochilando
foi dizendo: o que quer?
mas vendo o ser esquisito
apavorou-se, deu um grito
e se agarrou com a mulher.
A criatura foi saindo
para um pé de benjamim
naquela época havia
no centro de Umirim
se escondeu detrás do tronco
deu quatro ou cinco roncos
e transformou-se em cupim.
Mas ninguém se aproximou
não queriam se arriscar
as hora foram passando
começou a clarear
e quanto ficou visível
perceberam algo incrível
nada havia no lugar.
Apareceu no Rancho Fundo
um dos bairros mais antigos
sob o clarão da lua
sapateou em um abrigo
chamado de barracão
depois sentou num pilão
para coçar o umbigo.
Montado em um jumento
foi dizendo: upa, upa
um cassaco e uma raposa
levava em sua garupa
uma mulher que o viu
teve um desmaio e caiu
e daí ficou maluca.
Chegou à Rua do Rio
os galos estavam cantando
passou no Açude Grande
um tamanduá puxando
no Alto Alegre parou
As estrelas contemplou
tal qual um gato miando.
Foi num corte de madeira
que aguardava um caminhão
pra poder ser transportada
para próximo da Estação
subindo desempilhou
toda madeira que ficou
espalhada pelo chão.
Passou pela Carnaúba
atravessou o Bringel
chegando em São Domingos
resolveu ir tirar mel
movimentando as orelhas
pra espantar as abelhas
tirou e pôs num chapéu.
O lobisomem falado
por muitos anos apareceu
mas até hoje ninguém sabe
o que foi que aconteceu
se simplesmente sumiu
ou se alguém o descobriu
se foi embora ou morreu.
Jamais pensei que pudesse
Um lobisomem existir
Vejo agora que é possível
Encontrar um por aí
Na verdade para achar
A melhor forma é sonhar
Lembre que é só dormir.
Juvenal Amaro
Umirim, Dezembro de 2008
sexta-feira, 2 de julho de 2010
O LOBISOMEM DE UMIRIM
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Os cordéis do poeta Juvenal me fazem retornar ao tempo de criança, quando ouvia o saudoso Siqueirão fazendo a leitura dos famosos "romances" para o meu avô Manelito. Adorava sua leitura quase cantada.
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