terça-feira, 10 de agosto de 2010

CRUEL DOR DE BARRIGA


Agora calmo pensando
no sufoco que passei
naquela noite de horrores
se rio ou chora, não sei
que envolveu uma paixão
dor de barriga e um barrão
e um final que odiei.

E nestes humildes versos
queria poder contar
tudo que aconteceu
numa noite de luar
quando muito apaixonado
dirigi-me a um povoado
pra namorada encontrar.

A tarde ia terminando
o coração forte batia.
Tinha largado o trabalho
cantarolando de alegria
queria ficar bacana
pois era fim de semana
e namorar eu iria.

Jantei bastante apressado
de maneira inquieta
pra não ficar atrasado
peguei logo a biciclata
pela vereda pedalando
eu ia me equilibrando
que parecia um atleta.

Na metade do caminho
senti algo esquisito:
uma cólica violenta
que quase eu dei um grito.
Fui andando devagar
quase querendo parar
porque ja estava aflito.

Mesmo com a dor de barriga
continuei pedalando
esperando melhorar
mas a dor ia aumentando
e quando não suportei
um pouco no mato entrei
e fui logo me agachando.

Já mais de dezoiteo horas,
estava escurecendo.
Eu me contorcia e gemia
fortemente me espremendo,
me esticava e me encolhia
vendo a hora que morria
naquele mato sofrendo.

Muita muriçoca havia
e naquele zunzunzum
acertaram uma ferroada
logo bem no meu bumbum
desprotegido e pelado
e eu já bastante suado
apenas fazia huuuuum.

Então pra me defender
matar o inseto tentei
dando-lhe uma mãozada
e os meus dedos melei
mas não tendo percebido
o que havia acontecido
a bater continuei.

Onde pousava uma
eu já estava com a mão
antes que ela picasse
eu ia com precisão
esmagar com a mão melada
mas pensando ser suada
não prestava a atenção.

No meio da minha testa
pousou uma ardentemente
e ainda com a mão
a acertei rapidamente.
Senti outra em minhas costas
e mesmo fedendo a bosta
rápido bati novamente.

Estava erguendo a cabeça
aliviado e feliz
outra veio e ferroou
mesmo bem no meu nariz
e com a mão mais uma vez
com a mesma rapidez
mais uma besteira fiz.

e agora desta vez
atingiu também o bigode,
com o mal cheiro imaginei...
mas pensei também: não pode...
e com o polegar e o indicador
mesmo com aquele fedor
ainda ajeitei o bigode.

Saí daquele local
a bicicleta empurrando
mas aquele cheiro horrível
ia me acompanhando
verifiquei as chinelas
e não havendo nada nelas
aí fui desconfiando.

Perguntava a mim mesmo:
será que estou defecado?
mas como isso é possível
se tive tanto cuidado?
Foi quase agonizante
mas nem mesmo um instante
eu fiquei desacordado.

Parei e ergui a cabeça
para inspirar profundo
sentí como se estivesse
todo defecado o mundo
aí cheirei minha mão
foi grande a decepção
me vendo um sujeito imundo.

Continuei a viagem
já bastante diferente,
não parecia mais um atleta,
era mesmo um doente,
aquele esforço imenso
tinha me deixado tenso
e eu seguia lentamente.

Fui seguindo indeciso
porque não sabia mais
se deveria ir à frente
por estar sujo demais;
quando pude pressentir
que algo vinha a me seguir
há alguns metros atrás.

Foi chagando de uma vez
e me dando um empurrão
fui me desequilibrando
caindo logo ao chão
e olhando espantado
aquilo tudo apavorado
percebí que era um barrão.

O bicho era enorme
e tentava me lamber
e eu procurava um jeito
pra poder me defender
mas com o focinho empurrava
toda vez que eu tentava
me levantar e correr.

Foi uma luta tão feia
entre mim e o animal
até que eu conseguì
me levantar, afinal
e a bicicleta não vendo
saí mesmo a pé correndo
no meio do matagal.

O barrão correu também,
eu na frente e ele atrás
eu tremia, ele roncava,
cada qual fedia mais,
numa árvore fui trepando
e ele ficou roncando
como um animal voraz.

Já era de madrugada
Um barulho escutei
Vi o bicho indo embora
E um pouco esperei,
Não escutando mais ronco
Agarrei aquele tronco
Levemente escorreguei.

Ao chegar no chão saí
Muito depressa correndo
Apanhei a bicicleta
Resmungando, maldizendo,
Orvalhado e fedendo.

Juvenal Amaro
Umirim-CE, 1996

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