no sufoco que passei
naquela noite de horrores
se rio ou chora, não sei
que envolveu uma paixão
dor de barriga e um barrão
e um final que odiei.
E nestes humildes versos
queria poder contar
tudo que aconteceu
numa noite de luar
quando muito apaixonado
dirigi-me a um povoado
pra namorada encontrar.
A tarde ia terminando
o coração forte batia.
Tinha largado o trabalho
cantarolando de alegria
queria ficar bacana
pois era fim de semana
e namorar eu iria.
Jantei bastante apressado
de maneira inquieta
pra não ficar atrasado
peguei logo a biciclata
pela vereda pedalando
eu ia me equilibrando
que parecia um atleta.
Na metade do caminho
senti algo esquisito:
uma cólica violenta
que quase eu dei um grito.
Fui andando devagar
quase querendo parar
porque ja estava aflito.
Mesmo com a dor de barriga
continuei pedalando
esperando melhorar
mas a dor ia aumentando
e quando não suportei
um pouco no mato entrei
e fui logo me agachando.
Já mais de dezoiteo horas,
estava escurecendo.
Eu me contorcia e gemia
fortemente me espremendo,
me esticava e me encolhia
vendo a hora que morria
naquele mato sofrendo.
Muita muriçoca havia
e naquele zunzunzum
acertaram uma ferroada
logo bem no meu bumbum
desprotegido e pelado
e eu já bastante suado
apenas fazia huuuuum.
Então pra me defender
matar o inseto tentei
dando-lhe uma mãozada
e os meus dedos melei
mas não tendo percebido
o que havia acontecido
a bater continuei.
Onde pousava uma
eu já estava com a mão
antes que ela picasse
eu ia com precisão
esmagar com a mão melada
mas pensando ser suada
não prestava a atenção.
No meio da minha testa
pousou uma ardentemente
e ainda com a mão
a acertei rapidamente.
Senti outra em minhas costas
e mesmo fedendo a bosta
rápido bati novamente.
Estava erguendo a cabeça
aliviado e feliz
outra veio e ferroou
mesmo bem no meu nariz
e com a mão mais uma vez
com a mesma rapidez
mais uma besteira fiz.
e agora desta vez
atingiu também o bigode,
com o mal cheiro imaginei...
mas pensei também: não pode...
e com o polegar e o indicador
mesmo com aquele fedor
ainda ajeitei o bigode.
Saí daquele local
a bicicleta empurrando
mas aquele cheiro horrível
ia me acompanhando
verifiquei as chinelas
e não havendo nada nelas
aí fui desconfiando.
Perguntava a mim mesmo:
será que estou defecado?
mas como isso é possível
se tive tanto cuidado?
Foi quase agonizante
mas nem mesmo um instante
eu fiquei desacordado.
Parei e ergui a cabeça
para inspirar profundo
sentí como se estivesse
todo defecado o mundo
aí cheirei minha mão
foi grande a decepção
me vendo um sujeito imundo.
Continuei a viagem
já bastante diferente,
não parecia mais um atleta,
era mesmo um doente,
aquele esforço imenso
tinha me deixado tenso
e eu seguia lentamente.
Fui seguindo indeciso
porque não sabia mais
se deveria ir à frente
por estar sujo demais;
quando pude pressentir
que algo vinha a me seguir
há alguns metros atrás.
Foi chagando de uma vez
e me dando um empurrão
fui me desequilibrando
caindo logo ao chão
e olhando espantado
aquilo tudo apavorado
percebí que era um barrão.
O bicho era enorme
e tentava me lamber
e eu procurava um jeito
pra poder me defender
mas com o focinho empurrava
toda vez que eu tentava
me levantar e correr.
Foi uma luta tão feia
entre mim e o animal
até que eu conseguì
me levantar, afinal
e a bicicleta não vendo
saí mesmo a pé correndo
no meio do matagal.
O barrão correu também,
eu na frente e ele atrás
eu tremia, ele roncava,
cada qual fedia mais,
numa árvore fui trepando
e ele ficou roncando
como um animal voraz.
Já era de madrugada
Um barulho escutei
Vi o bicho indo embora
E um pouco esperei,
Não escutando mais ronco
Agarrei aquele tronco
Levemente escorreguei.
Ao chegar no chão saí
Muito depressa correndo
Apanhei a bicicleta
Resmungando, maldizendo,
Orvalhado e fedendo.
Juvenal Amaro
Umirim-CE, 1996
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