Neste
momento que venho
Fazer
esta descrição
A
Deus peço permissão
E
o meu lápis sustenho.
Quero
escrever com empenho
E
com muita sensatez
Pois
agora desta vez
O
assunto não é fraco.
Vou
falar sobre o velhaco
E
também do bom freguês.
Quando
vai alguém sair
Pra
fazer a sua venda
Diz
antes: Deus me defenda
Do
velhaco que surgir.
E
vai andando por aí
Seu
artigo oferecendo
Sem
saber se está vendendo
A
uma pessoa honesta
Ou
a alguém que só presta
Para
lhe ficar devendo.
E
com receio tamanho
De
logo ser enganado
Ele
vende preocupado
Pois
precisa ter seu ganho.
Se
acha o freguês estranho
Fala
que quer voltar cedo
Sentindo
um pouco de medo
Para
este não vender.
Isto
acontece porque
Não
conhece o segredo:
Quando
chega o vendedor
Na
casa do bom freguês
Ele
com mui polidez
Diz:
como vai o senhor?
Finge
não ser comprador
A
ver seu artigo evita.
O
vendedor diz: permita
Que
lhe mostre as novidades.
Mas
só compra, na verdade,
As
quais ele necessita.
O
velhaco é diferente
Nem
olha para o vendeiro.
Revira
tudo ligeiro
Para
comprar de repente
Tudo
que lhe vem à mente.
Sem
maneira indecisa.
Se
o vendedor não avisa
Como
são os pagamentos
Ele
naquele momento
Compra
o que não precisa.
O
bom cliente já pensando
Nos
pagamentos a fazer,
Tem
receio de dever,
Olha
e fica pensando,
Mesmo
o dono convidando
De
maneira camarada.
Não
retira ele mais nada
Pois
já está satisfeito.
Acerta
tudo direito
E
dá um boa entrada.
O
velhaco também pensa,
Mas
somente em enganar,
Pode
a conta aumentar
Que
coisa ele não dispensa.
E
depois diz: não compensa
Fazer
uma compra desta.
Nem
pergunta quanto resta
E
se alguém não diz nada
Dá
uma péssima entrada.
Fala
que a compra não presta.
Quando
o dia está chegando
Que
o cobrador vai passar
O
bom cliente já está
Da
prestação se lembrando
E
algum dinheiro guardando
Pra
fazer o pagamento.
Lembra
naquele momento
Que
é tão útil o artigo
E
até mostra a um amigo
Cheio
de contentamento.
O
velhaco se esquece.
Gasta
com isso e aquilo
E
fica muito tranquilo,
Que
não deve até parece.
Às
vezes, quando acontece
De
o vizinho avisá-lo
Ou
outro freguês lembrá-lo
Que
o vendedor logo passa
Diz:
se aquela desgraça
Me
perturbar vou matá-lo.
O
bom cliente só deseja
Pagar
logo o seu débito
E
embora o seu crédito
Aberto
sempre esteja
Ele
somente peleja
Pra
depressa terminar
De
suas contas pagar
E
com boas intenções
Até
duas prestações
Às
vezes ele vai dar.
Mas
o velhaco é errado
Não
paga a conta que fez
Deixa
atrasar mais de um mês
E
mesmo o crédito fechado
Ainda
quer comprar fiado.
Dizendo:
aquela de outrora
Eu
pago com a de agora.
E
a iludir tentando
Só
para de insistir quando
O
vendedor vai embora.
Cliente
bom não se atreve
A
comprar outro objeto
Antes
de pagar completo
A
conta que ainda deve.
Mas
procura pagar breve
O
que sempre vem pagando
Porque
só quer comprar quando
O
seu débito liquidar.
Não
quer a conta aumentar
Mesmo
o dono convidando.
Velhaco
só vai no dia
Que
deseja algo comprar.
Mesmo
sem antes falar
Se
o vendedor confia
Pega
a mercadoria
Como
quem crédito tem.
Diz
que vai levar também
E
o tempo vai passando
Só
a conta aumentando
E
dinheiro nunca vem.
O
bom freguês sempre é
Uma
pessoa honrada,
Não
tem conta atrasada,
Paga
o quanto puder.
Nele
o vendedor tem fé,
Oferece
ainda mais,
Sabendo
que é capaz
E
um ser bastante honesto
Vende
até mesmo o resto
Porém
não o insatisfaz.
O
velhaco é uma pessoa
Que
aborrece facilmente
É
um sujeito indecente
Que
fica falando à toa
Dizendo
que não é boa
A
coisa que alguém vende.
Também
facilmente ofenda
A
qualquer um vendedor
Ou
o chama de “amor”
Quando
enganá-lo pretende.
Às
vezes, o bom freguês
Não
está em condição
De
pagar a prestação
A
qual é chegada a vez.
Com
o seu jeito cortês,
De
todo bom comprador
Diz
para o vendedor:
Não
vai me levar a mal
Mas
hoje o meu capital
Não
dá pra pagar o senhor.
Freguês
velhaco porém
Nunca
se encontra em casa.
Seu
pagamento atrasa
Pois
quando o cobrador vem
Finge
que não há ninguém.
Vai
ligeiro pra cozinha.
Mas
se avisa a vizinha
Com
isso ele não se importa,
Corre
logo e fecha a porta
Ou
deixa a casa sozinha.
Quando
vai alguém cobrar,
Bem
depressa o bom freguês
Paga
a prestação que fez
Sem
de alguém duvidar.
Não
fica a perguntar,
Sabe
que está tudo certo,
Que
o vendedor é correto,
Olha
apenas a anotação
Pra
ver se a liquidação
Da
conta já está perto.
Porém
o velhaco quando
Vai
pagar, uma vez por ano,
Fala
que houve engano
Ou
que estão lhe roubando,
A
sua conta aumentando.
Diz
que aquilo não comprou,
Que
é roubo do vendedor.
Faz
uma grande questão
E
não paga a prestação
Que
há tempo atrasou.
O
bom freguês, todo dia
Que
o vendedor aparece
Nunca,
nunca se esquece
De
trazer sua quantia
Sai
com muita alegria
Faz
então seu pagamento
E
se está com o intento
De
alguma coisa comprar
O
vendedor vai mostrar,
Vende
no mesmo momento.
Quando
o velhaco aparece
Tudo
fica diferente:
O
dono se faz ausente
Como
se lá não estivesse
E
logo desaparece
Pra
com este não falar.
Porque
senão vai comprar
Alguma
coisa ligeiro
E
depois o seu dinheiro
Não
vai nem sequer pegar.
Velhaco
“profissional”
Que
tem vivência bastante
Chega
todo elegante
Mostrando
o seu capital.
O
vendedor acha legal
Vai
logo oferecendo
E
muita coisa vendendo.
O
achou um bom freguês,
Mas
este, a compra que fez
Fica
todinha devendo.
Já dizia um amigo
meu:
Um velhaco não é
gente!
Vem e leva o que
é seu
Educado e
sorridente.
Não sendo
perceptível
A sua mania
horrível
Lesa qualquer um
vivente!
Umirim-CE
Dezembro
de 1983