Quando chega a madrugada
Canta alegre a passarada
Rompendo assim a calada
Com tão bela entoação
Causando admiração
E acordando o sertanejo
Para seguir o traquejo
Que existe no sertão.
Enquanto cantam nos galhos
As aves sob o orvalho
Chamando para o trabalho
Aquele homem rural
Também muge no curral
O gado pelo vaqueiro
Querendo sair ligeiro
Em busca do matagal.
O galo então prenuncia
Que vai chegar outro dia
Repleto de alegria
Cantando sem ter demora
Seu canto serve de hora
Pr’este sertão encantado
Deixando o povo avisado
Que está chegando a aurora.
Quando seu povo levanta
A penumbra ainda é tanta
E o belo sertão encanta
De toda sua gente a alma
No sertão não existe trauma
Vai-se ao trabalho cedo
Vive-se sem muito medo
E tem-se uma vida calma.
Mais outro dia inicia
Com a mesma poesia
Sem aquela correria
Que existe na cidade
Seu povo sem vaidade
Vai deixando sua casinha
Para o trabalho caminha
Com muita tranquilidade.
O vento sempre soprando
As árvores já balançando
E as águas movimentando
Numa bela ondulação
Pouco a pouco a escuridão
Se esconde detrás do sol
Como é lindo o arrebol
Quando é visto do sertão!
O viver é mais seguro
Respira-se o ar puro
E o dia não fica escuro
Pois não há poluição
Faz-se a respiração
Com muita tranquilidade
Não é como na cidade
Que prejudica o pulmão.
A brisa traz os odores
Dos campos cheios de flores
Aos tão simples moradores
Do humilde povoado
Deixando-os deslumbrados
Com tanto encantamento
Que há a todo momento
Neste sertão mui amado.
No sertão se vê de perto
A poesia do deserto
Sabe-se também ao certo
Adorar com singeleza
As coisas da Natureza
Como realmente são
Sem haver transformação
Nem violar a beleza.
O seu povo é sofrido
Mas não fica entristecido
Deixa as dores no olvido
Vive sempre com prazer
Nunca lamenta porque
É um privilegiado
Não importa o seu estado
O importante é viver.
Tudo é contentamento
Nem mesmo o sofrimento
Deixa-o um só momento
Demonstrar o que acontece
Ele não se entristece
E ao Criador bendiz
Sente-se muito feliz
Sorrindo enquanto padece.
Como é gostoso e simples
Viver aqui no sertão
Compartilhar das tristezas
Junto com nossos irmãos
Em face das grandes secas
Que abrasam o nosso chão.
Chorar com as suas lágrimas
Sorrir com o seu sorriso
Ajuda-los ou pedir-lhes
Auxílios quando preciso
E fazermos do sertão
O nosso lindo paraíso.
A angústia do seu povo
O escasso inverno justifica
A razão de nossas vidas
Em sua beleza se explica
Apesar do sofrimento
O sertão triste não fica.
Quero ficar no sertão
Todo o tempo que viver
Andando pelos lugares
Lindos! Pois com mui prazer
Este espírito sertanejo
Aqui vai permanecer.
Quero ver pelos açudes
Trabalharem os pescadores
Caminhar pelas veredas
Sentir o odor das flores
E ouvir os sertanejos
Cantarem aos seus amores.
Vou ainda tomar banho
Nos rios e ver as cascatas
Que encantam a Natureza
Sonorizando as matas
E banham a sertanejas
Branca, morena e mulata.
Hei de continuar aqui
Onde encontro suporte
E não existe motivo
Para reclamar da sorte
Que daqui do meu sertão
Nada! Nada me transporte!
Não posso deixar de ver
O heroísmo do vaqueiro
Que vai em busca do gado
Por entre o mato, ligeiro
Arriscando de sua vida
Ser o minuto derradeiro.
Que bela uma cantoria!
Numa noite de luar.
Ao som do canto dos pássaros
Feliz poder despertar
E cumprimentar o vizinho
Bem antes do sol raiar.
Que me perdoe o Onipotente
Se alguma coisa é infiel
Mas quero ficar aqui
Neste sertão que é meu céu
Onde adoro a Natureza
E escrevo o meu cordel.
Janeiro a junho, inverno
Um período de alegria
Verde por todo lugar
Encantos e poesias
Na outra estação se arruma
A terra onde se costuma
Labutar todos os dias.
Fevereiro de 1981
Umirim-CE
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