segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

UMIRIM E A MULA SEM CABEÇA

 


                                      Juvenal Amaro

  

Estou pedindo a Deus

Que ela não me apareça

E o que sempre acontece

Comigo não aconteça

Mas eu preciso falar

Sobre a mula sem cabeça.

 

Preste atenção na estória

Se for possível decore

Mas não fique amedrontado

Não se espante, não chore

Pois é apenas um mito

Do nosso belo folclore.

 

Dizem que uma mulher

De um padre namorada

Através de alguma força

Passou a ser castigada

E uma noite por semana

Numa mula é transformada.

 

Toda passagem da noite

De quinta pra sexta-feira

Vai até uma encruzilhada

Muito rápido, na carreira

E lá ocorre o encantamento

Que dura a noite inteira.

 

Depois que é transformada

Não pode tempo perder

Porque ao longo da noite

Antes de amanhecer

Mais de sete povoados

Ela tem que percorrer.

 

Mas a mula sem cabeça                                                              

Quando aparece é inteira

Assim dizem os que já viram

E falam dessa maneira;

Sem cabeça é o nome

Ela mesma é verdadeira.

 

Lança fogo pela boca

E também pelas narinas

Surgem chamas no escuro

Que parecem lamparinas

A claridade se espalha

Pelas ruas e nas campinas.

 

Freio de ferro na boca

E galope violento

Assusta com os relinchos

Dados a todo momento

Que são cem vezes mais fortes

Que relincho de um jumento.

 

Em alguns momentos também

Quando vai estrada a fora

Soluça enormemente

Qual pessoa quando chora

Como se algo invisível

Apertasse-lhe as esporas.

 

Nas noites que ela vai

Cumprir sua punição

Ninguém se atreve a sair

De casa na região

Onde se fala que a mula

Faz a sua aparição.

 

Nos lugares mais escuros

Com noites silenciosas

Onde existem as igrejas

E as ruas muito espaçosas

Com as casas mais distantes

Ela aparece assombrosas.

 

Se um dia um corajoso                                                                   

Da sua boca for tirar

Os freios que lá existem

O encanto vai quebrar

E a mula sem cabeça

A ser gente vai voltar.

 

E se livrar para sempre

Dessa grande maldição

Que a castiga grandemente

Sem a menor compaixão

Por conta de uma força

Vinda do seu coração.

 

Vai ficando mais difícil

Se quebrar esse encanto

Com ruas iluminadas

O silêncio não é tanto

E os paredões de som

Que deixam a mula em prantos.

 

Porém uma noite a mula

Que pelo Umirim passou

Com o seu galope forte

Muita gente acordou

Que saiu rápido às ruas

Mas assustada voltou.

 

Pois esperava que ali

Pudesse então se livrar

Do castigo que há muito

Tinha que aguentar.

Queria encontrar alguém

Para os seus freios arrancar.

 

Ela passou se escondendo

Lá pelo bairro de Posto

Não podendo galopar

Sentiu o maior desgosto

Achando que sua cara

Não voltaria a ser rosto.

 

 Para tirar os seus freios                                                                  

Foi ao bairro de Cruzeiro

De madrugada nas ruas

Verificou bem ligeiro

Ansiosa pra encontrar

Pelo menos um ferreiro.

  

Foi até o Barro Branco

Pelo Recife voltou

Já perto do Alto Alegre

Um jumento encontrou

Lançou fogo no coitado

Que se ardendo ficou.

 

A mula não foi mais vista

Talvez tenha se mudado

Pra viver sua maldição

Em um distante povoado

Ou quem sabe possa até

Já ter se desencantado.

 

Mas é bom se prevenir

Porque pode de repente

Ela de novo surgir

Com seu fogo mais ardente

Dando relinchos enormes

Mostrando seus grandes dentes.

 

Justamente uma mula

Um animal resistente

Vai galopando veloz

Em lugares diferentes.

Nada impede que um dia

Ainda sinta alegria

Livrando-se das correntes.

 

Junho de 2015

Umirim-CE

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