Juvenal Amaro
Estou pedindo a Deus
Que ela não me apareça
E o que sempre acontece
Comigo não aconteça
Mas eu preciso falar
Sobre a mula sem cabeça.
Preste atenção na estória
Se for possível decore
Mas não fique amedrontado
Não se espante, não chore
Pois é apenas um mito
Do nosso belo folclore.
Dizem que uma mulher
De um padre namorada
Através de alguma força
Passou a ser castigada
E uma noite por semana
Numa mula é transformada.
Toda passagem da noite
De quinta pra sexta-feira
Vai até uma encruzilhada
Muito rápido, na carreira
E lá ocorre o encantamento
Que dura a noite inteira.
Depois que é transformada
Não pode tempo perder
Porque ao longo da noite
Antes de amanhecer
Mais de sete povoados
Ela tem que percorrer.
Mas a mula sem cabeça
Quando aparece é inteira
Assim dizem os que já viram
E falam dessa maneira;
Sem cabeça é o nome
Ela mesma é verdadeira.
Lança fogo pela boca
E também pelas narinas
Surgem chamas no escuro
Que parecem lamparinas
A claridade se espalha
Pelas ruas e nas campinas.
Freio de ferro na boca
E galope violento
Assusta com os relinchos
Dados a todo momento
Que são cem vezes mais fortes
Que relincho de um jumento.
Em alguns momentos também
Quando vai estrada a fora
Soluça enormemente
Qual pessoa quando chora
Como se algo invisível
Apertasse-lhe as esporas.
Nas noites que ela vai
Cumprir sua punição
Ninguém se atreve a sair
De casa na região
Onde se fala que a mula
Faz a sua aparição.
Nos lugares mais escuros
Com noites silenciosas
Onde existem as igrejas
E as ruas muito espaçosas
Com as casas mais distantes
Ela aparece assombrosas.
Se um dia um corajoso
Da sua boca for tirar
Os freios que lá existem
O encanto vai quebrar
E a mula sem cabeça
A ser gente vai voltar.
E se livrar para sempre
Dessa grande maldição
Que a castiga grandemente
Sem a menor compaixão
Por conta de uma força
Vinda do seu coração.
Vai ficando mais difícil
Se quebrar esse encanto
Com ruas iluminadas
O silêncio não é tanto
E os paredões de som
Que deixam a mula em prantos.
Porém uma noite a mula
Que pelo Umirim passou
Com o seu galope forte
Muita gente acordou
Que saiu rápido às ruas
Mas assustada voltou.
Pois esperava que ali
Pudesse então se livrar
Do castigo que há muito
Tinha que aguentar.
Queria encontrar alguém
Para os seus freios arrancar.
Ela passou se escondendo
Lá pelo bairro de Posto
Não podendo galopar
Sentiu o maior desgosto
Achando que sua cara
Não voltaria a ser rosto.
Para tirar os seus freios
Foi ao bairro de Cruzeiro
De madrugada nas ruas
Verificou bem ligeiro
Ansiosa pra encontrar
Pelo menos um ferreiro.
Foi até o Barro Branco
Pelo Recife voltou
Já perto do Alto Alegre
Um jumento encontrou
Lançou fogo no coitado
Que se ardendo ficou.
A mula não foi mais vista
Talvez tenha se mudado
Pra viver sua maldição
Em um distante povoado
Ou quem sabe possa até
Já ter se desencantado.
Mas é bom se prevenir
Porque pode de repente
Ela de novo surgir
Com seu fogo mais ardente
Dando relinchos enormes
Mostrando seus grandes dentes.
Justamente uma mula
Um animal resistente
Vai galopando veloz
Em lugares diferentes.
Nada impede que um dia
Ainda sinta alegria
Livrando-se das correntes.
Junho de 2015
Umirim-CE
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