sábado, 16 de janeiro de 2021

A FARINHADA

         


                                                                                                      

           

    Fui a uma farinhada

    Na casa do seu Simão

    Onde o trabalho pra todos

    É como uma diversão.

    Cada um interessado

    Na tarefa, ocupado.

    Com a mandioca na mão.

 

    Então no dia marcado

    A mandioca já tirada

    As pessoas vão chegando

    Pra dar início a jornada

    Todos com disposição

    Dando-nos a sensação

    De uma festa animada.

 

    Os que chegam logo vão

    A mandioca lavando.

    O trabalho não é pouco,

    Tem mandioca sobrando.

    Mas sempre chega mais gente

    A mandioca que aguente

    O povo que vai chegando.

 

 O dono da farinhada 

 Fala: gente vem pra cá 

 Porque nós vamos agora

 A mandioca descascar.

 E pra que fique tudo bem

 Não podemos ficam sem

 Na mandioca pegar.

 

À noite se conta estória

De muita assombração,

Lobisomem e outros entes

Que aparecem no sertão.

Sobre animais ferozes,

De barulhos e de vozes

Que surgem na escuridão.

   

Muita conversa engraçada                                                                                           

Para todo mundo rir.

Alguém contando piadas

Para o grupo divertir.

Até a hora chegar

E a gente se agasalhar

Um pouco para dormir.

 

 

Porém nessa farinhada

A grande preocupação

Eram os enormes morcegos

Que havia na região.

Com muito medo diziam

Que à noite quando dormiam

Tinham muita precaução.

 

Diziam que os morcegos

Realmente eram demais

E apareciam sugando

O sangue dos animais.

O assombro era feio

Todo mundo tinha receio

De ir cochilar em paz.

 

Aí no meio da noite

O sono veio a chagar.

Havia gente se aprontando

Para ir se agasalhar.

Uns nas redes no galpão,

Outros em esteiras no chão

Começaram a se deitar.

 

 

O João da farinhada

Um rapaz trabalhador

Com sua rede muito usada

Foi procurar armador

Que ficasse afastado

Num canto mais sossegado

Não perto do corredor.

 

Dentro de um calção folgado

De um tecido macio

Deitou-se sem um lençol

Que o protegesse do frio.

Mas Maria disse: João,

Te enrola porque senão

Vão puxar o teu “pavio”.

 

Maria por certo tinha                                                                                                   

Uma paixão por João

E ficou a noite toda

Sempre tendo atenção.

Toda vez que se acordava

De sua rede olhava

Com medo do morcegão.

 

Durante a madrugada

Todo mundo já dormia

E João mesmo dormindo

Bastante se remexia.

A rede foi-se partindo

E seus testículos saindo

No buraco que surgia.

 

Ficava muito debruço,

E assim facilitou

Que quando durante a noite

Que a rede em baixo rasgou

E aumentou o buraco

Rapidamente o saco

Do sujeito pendurou.

 

Ainda era penumbra

Quando Maria acordou

E algo por baixo da rede

De João ela avistou.

Mesmo não vendo direito

Pensou assim, desse jeito:

O morcego o pegou.

 

Pensando ser o animal

Por baixo o homem sugando

Pegou logo seus tamancos

E em cada mão calçando

Saiu bem devagarinho

Agachada com jeitinho

Pelo chão se arrastando.

 

Chegando próximo da rede

Procurou se equilibrar

Para entre os tamancos

O morcego imprensar.

Pois se ela desse bobeira

E não fosse tão ligeira

O morcego ia escapar.

 

O pobre João gritou                                                                                                      

Acordando de repente.

Se contorcendo de dor

Gemendo enormemente

E no meio do galpão

Uma grande agitação

Que acordou toda gente.

 

Dona Maria do Alto

Que tem um mandiocal

Muito comunicativa

Acolhedora e legal

Vendo o homem diferente

Falou delicadamente:

A mandioca lhe fez mal?

 

Tem a ver com a mandioca.

Respondeu assim João.

Ontem quando eu dormia

Eu não sei por que razão

Botaram-me numa prensa

Que senti uma dor intensa

Mas não tenho explicação.

 

Terminada a farinhada

João disse: não aguento

Voltar para a minha casa

Montado neste jumento.

Está doendo demais

Eu vou mesmo andando atrás

Ai, que grande sofrimento!

 

Juntamos as nossas coisas.

Uma farinha excelente!

Voltamos pras nossas casas

Encantados e contentes.

Na farinhada se faz

Amizades e ainda mais

Lembramos de antigamente.

 

Umirim-CE, junho de 2018.

 

 

 

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