Fui a uma farinhada
Na casa do seu Simão
Onde o trabalho pra todos
É como uma diversão.
Cada um interessado
Na tarefa, ocupado.
Com a mandioca na mão.
Então no dia marcado
A mandioca já tirada
As pessoas vão chegando
Pra dar início a jornada
Todos com disposição
Dando-nos a sensação
De uma festa animada.
Os que chegam logo vão
A mandioca lavando.
O trabalho não é pouco,
Tem mandioca sobrando.
Mas sempre chega mais gente
A mandioca que aguente
O povo que vai chegando.
O dono da farinhada
Fala: gente vem pra cá
Porque nós vamos agora
A mandioca descascar.
E pra que fique tudo bem
Não podemos ficam sem
Na mandioca pegar.
À noite se conta estória
De muita assombração,
Lobisomem e outros entes
Que aparecem no sertão.
Sobre animais ferozes,
De barulhos e de vozes
Que surgem na escuridão.
Muita conversa engraçada
Para todo mundo rir.
Alguém contando piadas
Para o grupo divertir.
Até a hora chegar
E a gente se agasalhar
Um pouco para dormir.
Porém nessa farinhada
A grande preocupação
Eram os enormes morcegos
Que havia na região.
Com muito medo diziam
Que à noite quando dormiam
Tinham muita precaução.
Diziam que os morcegos
Realmente eram demais
E apareciam sugando
O sangue dos animais.
O assombro era feio
Todo mundo tinha receio
De ir cochilar em paz.
Aí no meio da noite
O sono veio a chagar.
Havia gente se aprontando
Para ir se agasalhar.
Uns nas redes no galpão,
Outros em esteiras no chão
Começaram a se deitar.
O João da farinhada
Um rapaz trabalhador
Com sua rede muito usada
Foi procurar armador
Que ficasse afastado
Num canto mais sossegado
Não perto do corredor.
Dentro de um calção folgado
De um tecido macio
Deitou-se sem um lençol
Que o protegesse do frio.
Mas Maria disse: João,
Te enrola porque senão
Vão puxar o teu “pavio”.
Maria por certo tinha
Uma paixão por João
E ficou a noite toda
Sempre tendo atenção.
Toda vez que se acordava
De sua rede olhava
Com medo do morcegão.
Durante a madrugada
Todo mundo já dormia
E João mesmo dormindo
Bastante se remexia.
A rede foi-se partindo
E seus testículos saindo
No buraco que surgia.
Ficava muito debruço,
E assim facilitou
Que quando durante a noite
Que a rede em baixo rasgou
E aumentou o buraco
Rapidamente o saco
Do sujeito pendurou.
Ainda era penumbra
Quando Maria acordou
E algo por baixo da rede
De João ela avistou.
Mesmo não vendo direito
Pensou assim, desse jeito:
O morcego o pegou.
Pensando ser o animal
Por baixo o homem sugando
Pegou logo seus tamancos
E em cada mão calçando
Saiu bem devagarinho
Agachada com jeitinho
Pelo chão se arrastando.
Chegando próximo da rede
Procurou se equilibrar
Para entre os tamancos
O morcego imprensar.
Pois se ela desse bobeira
E não fosse tão ligeira
O morcego ia escapar.
O pobre João gritou
Acordando de repente.
Se contorcendo de dor
Gemendo enormemente
E no meio do galpão
Uma grande agitação
Que acordou toda gente.
Dona Maria do Alto
Que tem um mandiocal
Muito comunicativa
Acolhedora e legal
Vendo o homem diferente
Falou delicadamente:
A mandioca lhe fez mal?
Tem a ver com a mandioca.
Respondeu assim João.
Ontem quando eu dormia
Eu não sei por que razão
Botaram-me numa prensa
Que senti uma dor intensa
Mas não tenho explicação.
Terminada a farinhada
João disse: não aguento
Voltar para a minha casa
Montado neste jumento.
Está doendo demais
Eu vou mesmo andando atrás
Ai, que grande sofrimento!
Juntamos as nossas coisas.
Uma farinha excelente!
Voltamos pras nossas casas
Encantados e contentes.
Na farinhada se faz
Amizades e ainda mais
Lembramos de antigamente.
Umirim-CE, junho de 2018.
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