sábado, 16 de janeiro de 2021

AS TRADICIONAIS BANCAS DE CAFÉ NOTURNAS DO RIACHO DA SELA / UMIRIM

   


                Juvenal Amaro

 

Que grata recordação

De coisas antigas e belas

Iniciadas de forma

Rudimentar e singela

Há muitos anos atrás

Que são tradicionais

Desse Riacho da Sela.

 

Como as bancas de café

Com centenária existência

Às margens da rodovia

Com constante permanência

Desde a estrada de chão

E o povoado de então

Até hoje com frequência.

 

Pessoas sobreviviam

Ou complementavam a renda

Com essa atividade

Vendendo janta ou merenda

Às pessoas viajantes

E também aos habitantes

Que trabalhavam em fazendas.

 

Sobre a mesa a clarear

Se encontrava um lampião,

Bule contendo café,

A panela de baião...,

Um prato com tapioca,

Farinha de mandioca

E canecos de latão.

 

Com água um pote de barro,

Um fogareiro no chão,

Uma chaleira de lata

Com água em ebulição

Pra ter sempre cafezinho

Cheiroso e bem quentinho

Pra não ter reclamação.

  

Tripa de porco torrada,                                                                       

O cará preto e o preá.

No período de inverno

Podia ter mungunzá

Jerimum e milho assado.

A farinha de torrado

E até bolo de fubá.

 

Sempre havia alguém querendo

Café pra depois fumar

Ou para espantar o sono

Ou simplesmente para estar

Junto com outras pessoas

Em uma conversa boa

Antes de ir se deitar.

 

Tamboretes rodeando

A banca, sempre havia,

Para a acomodação

Da pessoa que comia

Ou um banco inteiriço

Feito de um pau roliço

Pra toda a freguesia.

 

Quase em todas as noites

Isso sempre acontecia:

Chegava algum viajante

Sozinho ou com companhia

Montado ou mesmo a pé

Procurando por café.

E essa cena acontecia:

 

- Boa noite, dona Maria.

- Boa noite seu José.

- Quanto custa a tapioca

Com um copo de café?

- O senhor paga mil reis,

Se senta e descansa os pés

E ainda toma um rapé.

 

O homem verificava

Botando a mão na algibeira

Pra ver se tinha dinheiro

Que pagasse à cafezeira.

Antes de pegar o gosto

Lavava logo o rosto

Para tirar a poeira.

 

Assim a vida noturna                                                                           

Do lugarejo se dava

Através daquelas bancas

Onde alguém pernoitava

Quando estava sem abrigo

Ou pra fugir do perigo

Pela noite não andava.

 

Nas noites de lua cheia,

Quebrada a escuridão,

Quase sempre se ouvia

Ao som de um violão

Cantigas de amor tão belas

Que vinham de uma daquelas

Serestas com mui paixão.

 

A cachorrada latia

Lá por detrás dos quintais.

Quem pernoitava nas bancas

Já não cochilava mais

Com medo que aquilo, então,

Fosse alguma assombração,

Coisas sobrenaturais.

 

Às vezes chegava alguém

Bastante alcoolizado

Encostando-se à mesa

Aumentando o balançado...

Ficava o dono da banca

Com a cara de carranca

Em sua mesa agarrado.

 

Em um alguidar de barro

Água havia pra lavar

Caneco, prato e colher.

E o que se fosse usar

E para limpar direito

De saco de açúcar feito

Um pano para enxugar.

 

O tempo foi se passando

Veio o desenvolvimento

O lugarejo aos poucos

Foi tendo algum crescimento

Construiu-se a ferrovia

Asfaltou-se a rodovia

Melhorou o movimento...

 

Foi chegando a luz elétrica                                                                    

Com outra iluminação

Que mesmo ainda precária

Superava o lampião

E os clientes que passavam

Algumas vezes chegavam

Em jeep ou em caminhão.

 

Essa terra de Umirim

Que progrediu ficou bela

Já não se parece mais

Com o Riacho da Sela

Mas as bancas de café

Inda hoje estão de pé

Atendendo a clientela.

 

Sempre às margens da estrada

Elas têm permanecido

Foram a vida noturna

Do lugarejo adormecido.

Fazem parte, na verdade,

Da história da cidade,

Isto é fato conhecido.

 

Jantar sossegadamente

Um baião de dois que a gente

Vai saboreando e sente

Energizar corpo e mente

Nas bancas do meu lugar.

Além de um café tomar

Light, gostoso e quente.

  

Umirim-CE, setembro de 2018.

2 comentários:

  1. Juvenal Amaro, meu eterno professor. Amigo e companheiro de trabalho. Toda minha reverência e respeito ao poeta e ao ser humano em que me espelho. Sou fá.

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    1. Poeta Clodoaldo Rodrigues, um dos orgulhos da nossa terra querida, é um honra desfrutar da sua amizade.Muito obrigado, um abraço.

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