Juvenal Amaro
Que grata recordação
De coisas antigas e belas
Iniciadas de forma
Rudimentar e singela
Há muitos anos atrás
Que são tradicionais
Desse Riacho da Sela.
Como as bancas de café
Com centenária existência
Às margens da rodovia
Com constante permanência
Desde a estrada de chão
E o povoado de então
Até hoje com frequência.
Pessoas sobreviviam
Ou complementavam a renda
Com essa atividade
Vendendo janta ou merenda
Às pessoas viajantes
E também aos habitantes
Que trabalhavam em fazendas.
Sobre a mesa a clarear
Se encontrava um lampião,
Bule contendo café,
A panela de baião...,
Um prato com tapioca,
Farinha de mandioca
E canecos de latão.
Com água um pote de barro,
Um fogareiro no chão,
Uma chaleira de lata
Com água em ebulição
Pra ter sempre cafezinho
Cheiroso e bem quentinho
Pra não ter reclamação.
Tripa de porco torrada,
O cará preto e o preá.
No período de inverno
Podia ter mungunzá
Jerimum e milho assado.
A farinha de torrado
E até bolo de fubá.
Sempre havia alguém querendo
Café pra depois fumar
Ou para espantar o sono
Ou simplesmente para estar
Junto com outras pessoas
Em uma conversa boa
Antes de ir se deitar.
Tamboretes rodeando
A banca, sempre havia,
Para a acomodação
Da pessoa que comia
Ou um banco inteiriço
Feito de um pau roliço
Pra toda a freguesia.
Quase em todas as noites
Isso sempre acontecia:
Chegava algum viajante
Sozinho ou com companhia
Montado ou mesmo a pé
Procurando por café.
E essa cena acontecia:
- Boa noite, dona Maria.
- Boa noite seu José.
- Quanto custa a tapioca
Com um copo de café?
- O senhor paga mil reis,
Se senta e descansa os pés
E ainda toma um rapé.
O homem verificava
Botando a mão na algibeira
Pra ver se tinha dinheiro
Que pagasse à cafezeira.
Antes de pegar o gosto
Lavava logo o rosto
Para tirar a poeira.
Assim a vida noturna
Do lugarejo se dava
Através daquelas bancas
Onde alguém pernoitava
Quando estava sem abrigo
Ou pra fugir do perigo
Pela noite não andava.
Nas noites de lua cheia,
Quebrada a escuridão,
Quase sempre se ouvia
Ao som de um violão
Cantigas de amor tão belas
Que vinham de uma daquelas
Serestas com mui paixão.
A cachorrada latia
Lá por detrás dos quintais.
Quem pernoitava nas bancas
Já não cochilava mais
Com medo que aquilo, então,
Fosse alguma assombração,
Coisas sobrenaturais.
Às vezes chegava alguém
Bastante alcoolizado
Encostando-se à mesa
Aumentando o balançado...
Ficava o dono da banca
Com a cara de carranca
Em sua mesa agarrado.
Em um alguidar de barro
Água havia pra lavar
Caneco, prato e colher.
E o que se fosse usar
E para limpar direito
De saco de açúcar feito
Um pano para enxugar.
O tempo foi se passando
Veio o desenvolvimento
O lugarejo aos poucos
Foi tendo algum crescimento
Construiu-se a ferrovia
Asfaltou-se a rodovia
Melhorou o movimento...
Foi chegando a luz elétrica
Com outra iluminação
Que mesmo ainda precária
Superava o lampião
E os clientes que passavam
Algumas vezes chegavam
Em jeep ou em caminhão.
Essa terra de Umirim
Que progrediu ficou bela
Já não se parece mais
Com o Riacho da Sela
Mas as bancas de café
Inda hoje estão de pé
Atendendo a clientela.
Sempre às margens da estrada
Elas têm permanecido
Foram a vida noturna
Do lugarejo adormecido.
Fazem parte, na verdade,
Da história da cidade,
Isto é fato conhecido.
Jantar sossegadamente
Um baião de dois que a gente
Vai saboreando e sente
Energizar corpo e mente
Nas bancas do meu lugar.
Além de um café tomar
Light, gostoso e quente.
Umirim-CE, setembro de 2018.
Juvenal Amaro, meu eterno professor. Amigo e companheiro de trabalho. Toda minha reverência e respeito ao poeta e ao ser humano em que me espelho. Sou fá.
ResponderExcluirPoeta Clodoaldo Rodrigues, um dos orgulhos da nossa terra querida, é um honra desfrutar da sua amizade.Muito obrigado, um abraço.
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